segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

CRIME ORGANIZADO INVADE INTERIOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


Já se foi o tempo em que a Região dos Lagos servia como um refúgio da agitação e violência do Rio de Janeiro. Agora, o ambiente convidativo de praias e tempo ensolarado também abriga o crime organizado, que cresceu em ritmo acelerado nos últimos dois anos. As cidades mais atingidas são Araruama, Cabo Frio e Macaé – as que possuem maior extensão territorial e que têm crescido desordenadamente, com o surgimento de muitas comunidades de baixa renda, locais onde bandidos foragidos do Rio se escondem. Os defensores públicos Luis Felipe Millen Silveira (Araruama), José Ricardo Paes de Abreu (Cabo Fio) e Rafael Martins Meressi (Macaé), que são moradores e trabalham nessas regiões atuando na área criminal, perceberam instantaneamente as mudanças no dia-a-dia. Pichações de facções criminosas são comuns, a circulação de drogas aumentou vertiginosamente e o conflito de grupos armados com a Polícia Militar tornaram-se mais violentos. “Antigamente, em Araruama o “crime organizado” funcionava assim: os moradores da cidade que cometiam algum crime e ficavam detidos em presídios no Rio faziam amizades com outros detentos de alguma facção. Quando eram soltos voltavam para a cidade e diziam que faziam parte de um ou outro grupo. Mas, se fosse perguntado a algum morador de uma localidade carente quem era o chefe da facção criminosa em questão, ninguém sabia a resposta.”, conta o defensor público Luis Felipe Millen Silveira. As drogas eram trazidas do Rio e vendidas superfaturadas para os consumidores que fossem procurar o produto.
Esta situação mudou. Traficantes da capital têm se mudado para as cidades da região, desenvolvendo o tráfico e fortalecendo o crime organizado. O local conhecido como Parque dos Meninos, em São Pedro da Aldeia, por exemplo, foi transformado em ponto principal de distribuição de drogas. Em Cabo Frio, a Polícia Militar realiza de três a quatro flagrantes de apreensão de drogas por semana e a Defensoria Pública está à frente de 44 processos de tráfico. “Os produtos principais são a maconha e a cocaína. Agora está chegando o crack. Normalmente, as quantidades são pequenas. Mas, esporadicamente, chegam quantidades maiores, como os 15 quilos de maconha que vieram de São Paulo e foram apreendidos pela Polícia Militar”, declarou o defensor José Ricardo Paes de Abreu. Para combater o tráfico, a polícia aumentou o número de incursões nas favelas e afirmou que apenas pistolas de calibre 38 são utilizadas pelos bandidos. Há cerca de um mês atrás, uma pequena quadrilha de seqüestro relâmpago – vinda de Macaé e São Pedro da Aldeia, formada por um menor de idade, que foi preso, e dois maiores, que estão foragidos – seqüestrou três pessoas em Cabo Frio, entre eles um coronel do Corpo de Bombeiros, que faleceu. Na ocasião, o líder da favela do Jacaré também foi baleado e morto em confronto com a polícia militar. Os demais bandidos mantiveram as escolas e o comércio fechados por quatro dias em sinal de luto.
O defensor público Rafael Martins Meressi, em atuação na Vara Criminal de Macaé há um ano e oito meses, também pode constatar significativo aumento da criminalidade, que se refletiu em seu trabalho como defensor. A Polícia Federal move grandes operações para combater o crime organizado do local. “A cidade, por ser a ‘Capital Nacional do Petróleo’, transformou-se em verdadeira ‘cidade de oportunidades’, atraindo enorme número de pessoas de todas as partes do país em busca de trabalho. Com a saturação do mercado de trabalho municipal, muitas dessas pessoas passam a viver em comunidades dominadas pelo tráfico de entorpecentes, e, muitas vezes, ingressam nas organizações criminosas na busca do sustento”, disse o defensor.

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