domingo, 18 de janeiro de 2009

Devagar com o andor que Obama é humano


A empolgação não poderia ser diferente. Barak Obama é um american dream que se fez realidade. Sorridente, atlético, jovem senador da República e negro. Ingredientes para se tornar em grande liderança numa América com problemas de auto-estima, crise financeira, desemprego em crescendo, guerras externas. O primeiro negro na Casa que a chamam de Branca terá que administrar a nação mais poderosa do planeta. Tem Obama comprovadas qualidades de administrador? De Executivo? Quando terminam admiração e fé no Homem Barak e começa a idolatria do Mito Obama?

Homem e mito tem sido ao longo da história universal o grande enigma, o calcanhar de Aquiles, o Graal, a espada de Camelot, razão para glorias e tragédias. Basta dar uma rápida passagem pela historia dos povos e lá estão os homens que se transformaram em mitos e lendas. Será que Matusalém, o sogro de Noé, chegou mesmo aos novecentos anos? O Épico de Gilgamesh já considerado o mais antigo livro da humanidade, um poema gravado em placas de argila ai por 2650 a.C. descreve Utnapishtim, o Noé dos sumérios, que ficou imortal por ter salvado todos os seres vivos de uma inundação. Isso muito antes dos religiosos transformarem Noé no grande mito da salvação da Terra.
A história ensina que é preciso muito cuidado para não fazermos simples mortais se passarem por gênios, comandantes, líderes, profetas e salvadores. Julio Cesar, Cleópatra, Atila, Rei dos Hunos, Hitler, Stalin, Simon Bolívar, Che Guevara, são apenas alguns dos muitos Homens-Mitos. È bom quando os analisamos a distancia com as distorções da história verbal ou escrita pelos interesses políticos e religiosos de cada época. Muito diferente quando vivemos o presente e vamos escrever a historia juntos como é o caso com Barak Obama. Devagar, pois, com o andor que o santo é de barro.
Os norte-americanos nascem, crescem e morrem acreditando em seus heróis das revistas em quadrinhos, desenho animado, filmes e seriados da TV. O Superman vive em Hollywood. Robin Hood continua tirando dos ricos e dando para os pobres. Elvis Presley não morreu. È um líder em vendas de long-plays remasterizados em CDs e Dvs. Gracie mansion continua sendo um dos lugares mais visitados (paga-se para entrar) dos Estados Unidos. O norte americano não consegue viver, vencer e sobreviver sem heróis, mitos e lendas. Por isso mesmo eles são muitos e para todos os gostos.
“Obama é o Nelson Mandela de nossos dias”. “Martin Luther King ressuscitado”. “È o John Kennedy negro" Há delírios de se comparar Lula com Obama ou Obama com Lula. A euforia dos negros e com razão é tão grande, a confiança e fé em Obama tão monumental que para a raça o novo presidente dos Estados Unidos- o país da mais longa e cruel trajetória racista do planeta- já é um Homem-Mito. Esperemos que o Mito não suplante o Homem. Esperemos que Barak Obama seja apenas um homem a presidir os Estados Unidos e por tabela um exemplo para todos os negros da Terra e seus primos pobres e injustiçados como os índios brasileiros, bolivianos, equatorianos, peruanos, paraguaios, australianos, mexicanos e os latinos jogados no lixão da historia que esta aí para ser lida e consultada. Cuidado, muito cuidado para não se entrar de corpo e alma na procissão gritando, louvando e esperando milagres de Salvadores da Pátria.
Os exemplos brasileiros são muitos. Quem não se lembra do furacão Collor, o caçador de marajás. Mito criado pela Venus Platinada para derrotar o líder operário, o Homem que pregava e lutava pelas grandes mudanças que o Brasil necessita. E lá atrás, Jânio Quadros, comendo sanduíche de mortadela, com caspa no paletó surrado, o homem simples da Vila Mariana paulistana que prometeu varrer a corrupção e colocar ladrões de colarinho branco na cadeia. Louco varrido (por isso tenho insistido para que alem da Declaração de Imposto de Renda os políticos brasileiros ao se candidatar tem que apresentar também Declaração de Saúde e de Sanidade Mental assinada por junta médica e não somente pelo médico do candidato) abandonou a presidência e jogou o país no túnel negro da ditadura militar. Mas, o Mito e a Lenda já estavam na mente dos paulistanos. Jânio voltou e governou a cidade São Paulo.
O brasileiro adora perpetuar Homens-Mitos. Eles dominam a política municipal, estadual e federal, o Legislativo e o Judiciário. Tai o exemplo de Luis Ignácio Lula da Silva a renegar o que foi e representou em passado recente. O Operário entregou o ouro para o Patrão. Foi mais uma vez cooptado pelo sistema que ele criticava, apontando mudanças a favor do país. Arregaçou o Brasil para o Dinheiro e a especulação. Bilhões saíram (saem) do país para acudir crises das matrizes no exterior. O mito Lula operário, nordestino pobre, populista, carismático, paz e amor, multiplicador de pães e de peixes, distribuidor de migalhas e bolsinhas que anestesiam e castram iniciativas já está no imaginário popular e já se tem como certa sua volta em 2014.
Do homem presidente, do executivo, do administrador de um país-continente só nos restam os discursos, as promessas de campanhas e “aquilo que poderia ter sido, mas não foi”. Mediocridade e vulgaridade por todos os lados. A superficialidade tomou conta da nação. De essencial, transformador, nada. Cresce a desordem e a desintegração urbana. Nada de realmente essencial na Saúde, Educação, Cultura e Segurança Pública. A destruição ambiental a níveis altíssimos. Rico por natureza o pais vai resistindo e produzindo. Mas, ate quando? Mas o que importa? Ensinaram-nos a viver o hoje. O presidente Lula pede consumo, não a poupança. Vive-se o aqui e agora.
God save America para que Barak Obama continue de carne e osso. A cor da sua pele não deve ser idolatrada a ponto de o Mito substituir o Homem-Presidente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário